quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Da janela cá de casa...



Da janela cá de casa vejo as luzes da cidade iluminarem outras vidas, outras casas, outras gentes, ouço o vento sussurrar delicadamente os pescoços longos e encarquilhados das árvores, embalando cada folha, cada ramo.
O tempo não desiste e o vento não cessa...
Parece louco, passa a pente fino cada beco, cada muro, cada janela entranhando-se em cada poro.
Observo-o, arrastando-se de cheiros distantes e dançando a noite dentro, pelas ruas desertas acariciando as paredes...trás consigo a terra e o orvalho.
Abro a janela…
E deixo-me embriagar nesse perfume, nessa fragrância de saudade...
Consigo sentir no meu corpo o desespero, a angústia de alguém que se perde, de alguém que não se encontra, canta piano no meu ouvido entoando “Blue in Green” como se esta fosse a sua última tentativa...
E num impulso áspero, rompe ansiedade, entregando-se ao desejo, gritando bem alto...
Estou aqui!
O céu escuro vai desbotando o azul profundo, caiando os telhados de sombras, abrigando os gatos pardos que protegem a noite.
Estou aqui!
O céu vai ganhando vida e o vento não desiste...
Estou aqui!
A madrugada canta os primeiros raios de sol e o vento insiste... Estou aqui!
Abraçam-se num só pela cidade numa ciranda de cheiros de saudade.
Estou aqui?

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