sexta-feira, 23 de setembro de 2011

tempo...




Nos teus braços, enleio intenso esse beijo, entrego-me sem decoro dentro dos teus olhos.
Afundo nesse abismo profundo onde repousa o tempo, o nosso tempo.
Desejo!

Vermelho incarnado...




Rasgo com as minhas mãos, com as minhas próprias vontades o desespero de sentir profundo.
O desespero de ser intensamente tudo o que toco, tudo o que amo...
Nesta ciranda morta, arrasto apenas a lembrança inocente de um dia sentir-me criança.
Passo transparente entre os defuntos sorrisos, passo nas mesmas pedras, nas mesmas ruas onde um dia gritaram o desejo de ser livre...
Olho dentro de cada palavra, de cada expressão exausta, olho cada ruga, cada murmuro...
A memória é um luxo!
Nesta terra de senhores já ninguém tira o chapéu...
Ouço passos lentos, pequenos, ouço o vento por de trás da vidraça, as ruas estão cheias de fantasmas.
Já ninguém colhe as flores...
Foram esquecidos os finados!
A dor encravou-se nos corpos adornados de brilho e cor, e os pés arrastam-se em pontas suportando o peso da inércia em agulhas frias... metálicas.
Onde está a indignação e a intenção... onde guardaram a coragem, onde ficaram o grito e a liberdade?
Vermelho, senhor...perfumado transportas em cada pétala o passado.
Este país ficou na saudade...

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Apaguei a luz desse inferno rubro...




Nas têmperas escorre lentamente o peso certo dos meus sentimentos...
Autêntico, obtuso, compacto... entranha-se no meu corpo, transmutando-se no meu rosto de vontades e desejos que me transcendem a razão.
Sou um cubo, sem arestas...
Em cada passo, semeio na terra o meu destino incerto.
Exumo o passado e os fantasmas dos meus gestos curtindo de cada um deles a pele e o cheiro, adubando cada lágrima de sorrisos, cada olhar de memórias...
Apaguei a luz desse inferno rubro, agora quero apenas sentir a corrente fria, quero apenas sentir no meu corpo a chuva gota a gota.
Sou um cubo, espelhado...
Nas minhas mãos carrego tudo o que sou e sinto, nas minhas mãos consigo ouvir me gritar o eco distante da paixão, de um amor efectivo.
Em cada passo, a distância permanece ambígua.
Hoje sinto-me um cubo...

O emplastro


O emplastro





No abismo cai errante de saltos altos e beiços pintados.
Transporta consigo memórias turvas e repugnantes de desejos insidiosos
De certezas afiadas e duvidas entranhadas no mais profundo poço da alma
Caiu, sem dignidade!
O peso da vergonha afunda-te cada vez mais e mais...
No incómodo rectal... de uma quimera sem corpo constróis moinhos de vento e vomitas enferma o fel das tuas consumidas vontades.
Não existe nada!
Sobrevives de migalhas entre os cadáveres... das depostas.
Satisfazendo-te arrogantemente da carcaça.
Não existe nada!
Apenas arrependimento!
A verdade fere-te o orgulho?
Ou o seu reflexo liberta em ti a angústia ser simplesmente insignificante?
No abismo cais errante de saltos altos e beiços pintados.
Transportas contigo memórias turvas e repugnantes de desejos insidiosos
De certezas afiadas e duvidas entranhadas no mais profundo poço da tua alma
Caíste, sem dignidade!
Ordinariamente declinaste e arrastas de ti esse cheiro pestilento envenenando o ar que respiras
Vestes-te de vulgaridade dissimulando toda essa ignóbil leveza de ser...
E reduzes-te de livre vontade á decadência.
Simplesmente sobrevives!
(Margarida Gil)

Rubro...

Lentamente se transforma, mais um passo e já se percebe a transparência de qualquer coisa como um sentimento de verdade, de liberdade.
Intensamente rubro! Vou ser feliz...

Bryan Ferry - Let's Stick Together



;)

inteiros...

Existem pequenos momentos que se transformam, que se libertam...
Desenvolvem asas, pequenos momentos intensamente únicos...
Existem entre a paz e o caos,
Tão ingenuamente sobrevivem e se transformam...
O tempo solidifica e alimenta este sentimento que teima que se constrói do húmus das palavras...
Resultados, inteiros...
Simples!

Há Mar...

Vou pintar-me de maresia,
Correr descalça na areia e saltar,
Sim saltar!
Vou sussurrar-te no ouvido o sal a pele...
Vou beijar-te todas as ondas do mar.