quinta-feira, 27 de outubro de 2011

cadentes...

A chuva cai, trespassando a roupa...
 O céu negro envolve-me o corpo de estrelas cadentes, acordando o meu peito de desejos e vontades urgentes.
Ouço do outro lado a tua a alma sorrir, em cada passo sinto o eco do teu olhar abraçando cada movimento meu, ouço as palavras mudas dos teus lábios caiando de branco as paredes rubras...
Ao som da tempestade dançamos a noite inteira, abraços nos braços.
Rompemos a madrugada olhos nos olhos descobrindo-te todos os medos, descobrindo-me todos os segredos.
Somos livres, inteiros sem mascaras, sem véus, sem receios, somos um só corpo de movimentos infinitos de beijos perpétuos, um só corpo, duas almas, um só desejo...
A chuva cai, trespassando-nos a pele, deslizando nos teus lábios promessas e juras de uma eternidade distante, e eu guardo nos meus olhos este momento.


FAUSTO - delicadamente p'ra ti

José Mário Branco - Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mário Viegas - "Os ais"

terça-feira, 25 de outubro de 2011

5ª edição - Rabiscuits Bienal Arte Experimental 2011


O Rabiscuits, enquanto projecto de divulgação da actividade artística, nesta sua 5ª edição pretende ser coerente na sua forma de se apresentar ao público, conquistando gradualmente um espaço importante no panorama cultural como projecto de partilha da Arte Contemporânea.
A Bienal de Arte Experimental de Alcobaça, surge da necessidade de dar a conhecer a capacidade criativa de artistas, reflectir sobre a produção artística como uma área diversificada e sensibilizar o espectador em relação às novasformas de expressão.
Perante esta postura, pode-se entender que o Rabiscuits tem como intenção proporcionar a partilha de saberes entre os diversos artistas, contribuir pedagogicamente com os vários públicos, incluindo o público não directamente envolvido e não especializado nas áreas apresentadas, acreditando no incentivo ao conhecimento de forma a possibilitar um cruzamento entre atitudes e novas criações vindas de diferentes pontos do país e do mundo.
De forma metafórica e ao mesmo tempo linear, o Rabiscuits designa-se como uma espécie de bienal em 3D, não só pela sua forma envolvente no espaço mas principalmente pela sua filosofia de Dinamização, Descentralização e Democratização da Arte (os 3 Ds).
1ª Feira de Objectos Criativos
O Rabiscuits, enquanto projecto de divulgação da actividade artística, nesta sua 5ª edição pretende apresentar ao público pela primeira vez uma Feira de Objectos Criativos.
A Bienal de Arte Experimental de Alcobaça, surge da necessidade de dar a conhecer a capacidade criativa de artistas, reflectir sobre a produção artística como uma área diversificada e sensibilizar o espectador em relação às novas formas de expressão.
Perante esta postura, pareceu-nos relevante dar mais um passo positivo que acresce à Bienal um novo valor.
Acreditamos no incentivo à produção de forma a possibilitar um cruzamento entre atitudes e novas criações.






quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Blue in Green by. Miles Davis

Da janela cá de casa...



Da janela cá de casa vejo as luzes da cidade iluminarem outras vidas, outras casas, outras gentes, ouço o vento sussurrar delicadamente os pescoços longos e encarquilhados das árvores, embalando cada folha, cada ramo.
O tempo não desiste e o vento não cessa...
Parece louco, passa a pente fino cada beco, cada muro, cada janela entranhando-se em cada poro.
Observo-o, arrastando-se de cheiros distantes e dançando a noite dentro, pelas ruas desertas acariciando as paredes...trás consigo a terra e o orvalho.
Abro a janela…
E deixo-me embriagar nesse perfume, nessa fragrância de saudade...
Consigo sentir no meu corpo o desespero, a angústia de alguém que se perde, de alguém que não se encontra, canta piano no meu ouvido entoando “Blue in Green” como se esta fosse a sua última tentativa...
E num impulso áspero, rompe ansiedade, entregando-se ao desejo, gritando bem alto...
Estou aqui!
O céu escuro vai desbotando o azul profundo, caiando os telhados de sombras, abrigando os gatos pardos que protegem a noite.
Estou aqui!
O céu vai ganhando vida e o vento não desiste...
Estou aqui!
A madrugada canta os primeiros raios de sol e o vento insiste... Estou aqui!
Abraçam-se num só pela cidade numa ciranda de cheiros de saudade.
Estou aqui?

Simples?


O espanto é o inicio da curiosidade...e verdade seja dita, os dias passam e eu não consigo deixar de estar de boca aberta, escancarada...
A vida é simples!
Simples?
A simplicidade da vida é um mito que me transcende a lógica e o raciocínio.
Essa não é uma realidade...
Neste mundo de bichos conscientes e alfabetizados os mais fortes alimentam-se dos sonhos, dos desejos e da fé. Constroem por cima das carcaças e alicerçam impérios á custa do desgraçado, que não desiste, que insiste, que procura a todo custo uma vida melhor mais simples... do pobre coitado que se cala e baixa a cabeça, do infeliz que dá o corpo ao manifesto, do necessitado que troca a alma por um vislumbre de igualdade, do miserável que nega e do que protela a própria liberdade...
Não vamos falar de liberdade.
Porque já não me espanta...




domingo, 16 de outubro de 2011

E depois...

Porquê já não interessa...
O tempo das coisas virou-se do avesso e na minha cabeça instalou-se um reboliço.
Sei te de cor cada gesto.
No peito a memória cheira a tinta fresca e cada pincelada esconde o caminho por onde me perco na grandeza desse abraço que me engole, que consome inteira a alma.
Odeio este tempo que nos separa e todos os minutos que ainda faltam.
Quero pintar-te, olhar para ti como se fosses uma tela em branco.
Guardar te nesse espaço só meu.
Hoje é apenas mais um dia, ainda consigo sentir o teu cheiro...e amanhã vou lembrar o teu cheiro e no outro dia vou agarrar me á memória do teu cheiro...
E depois...
Odeio este tempo que nos separa...
Este movimento perpétuo que nem o tempo desgasta, este exercício de memória obstinado que me transporta para longe do meu corpo.
Sentimentos, difíceis, volúveis, sem peso nem medida...
Arrastam me para um precipício sem fundo onde a consciência não tem passado nem futuro.
É tão fácil amar-te.
Vou pintar te de azul, profundo intenso, o mesmo azul que separa o dia da noite.
E depois...
Porquê já não interessa...

Miseráveis!



Miseráveis!
Todos os dias levantamo-nos da cama, cheios de energia e determinação...
Vestimos o fardo de uma vida sem arbítrio, tapando o corpo gasto, dorido, fatigado...
Já não abrimos as pálpebras de tanto peso, de tantas fezes...
De olhos encostados ao chão escondemos a vergonha, o desespero baço...
Trabalhamos o dia inteiro, exsudamos cada cêntimo, cada prestação, cada pedaço de pão, cada copo de vinho, cada cigarro...
Alimentamos os porcos, os feios, os maus!
Meios vivos, satisfazemo-nos de migalhas, rapamos o tacho se for preciso...
Coitados!
Caímos, meios vivos no sofá e mergulhamos cegos, surdos e mudos numa solidão destrutiva.
Sobrevivemos.
A liberdade saiu para a rua!
Resistimos...
Gritamos os gemidos silenciosos, dos sonhos, dos desejos, da justiça, da igualdade...
A liberdade saiu para a rua!
Gritamos outros tempos, outras guerras, outras lutas...no conforto falso de um sofá velho e consumido.
De orgulho ao peito, exibimos rubra a saudade.
O povo unido já mais será vencido!
A cada hora que passa morre a memória, morremos todos!
A cada minuto que passa os porcos ficam mais porcos e os feios mais feios, a cada segundo que passa os maus ficam pior...
Somos sombras, reflexos, somos resultados!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

CON TODA PALABRA

o amor é verde...





Já passaram tantas horas...
Mas felizmente os amigos são mais do que memórias.
Mais que palavras soltas ou ensaios moralistas, discursos coerentes ou sorrisos em forma de gritos livres, mais que alívios de alma ou conselhos racionais, bebedeiras pândegas ou jantaradas festivas.
Eles vivem nesse prolongamento entre a saudade e o abraço...
Onde o tempo não existe.
Bebem do mesmo copo, comem do mesmo prato e deitam-se na mesma cama...
Já passaram tantas horas...
Nesse prolongamento habita uma única cor.
Dos meus olhos vejo apenas verde...

tristemente vulgar...



Meu...
De concreto nada existe.
Essas coisas que se sentem, coisas que nos apertam, que nos agitam e seduzem.
Transcendem-me o entendimento.
Essas coisas que nos queimam, coisas que se entranham e nos escurecem
Perturbam-me o entendimento.
Fazem nos esquecer de nós próprios, esquecer a existência do outro...
Meu?
Essas coisas que adulteram os valores, que fazem de nós egoístas, profundamente egocêntricos.
De concreto nada existe.
Apenas os sobejos, os remorsos o arrependimento...
Falo, escrevo, penso, já tentei de tudo para compreender.
Qual é a magia?
Afinal onde está a magia de enganar, magoar, denegrir, ferir, roubar, destruir...
Meu?
Como se constrói, seja o que for em cima da merda?
Tanta moral, tanto discurso e para quê?
Ridicularizaste-te, certificaste com um comprovativo de incapacidade emocional...
De concreto nada existe.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O tempo já não existe...


Sem olhos, sem boca, sem mãos...
Corro, descalça a colina das memórias.
Sinto as pedras frias, sinto o gelo do inverno, todos os segundos trespassando o corpo, a pele.
Na simplicidade dos teus gestos repousa o brilho intenso dos meus olhos.
Passo cem vezes os dentes tortos da escova pelo fino e fulvo filamento de cada fio de cabelo, tentando organizar o caos dos meus pensamentos.
Já descobri cada dedo, cada beijo...
Aqui me sento, aqui no tapete azul profundo, aqui onde os nossos sonhos se escondem da realidade, ensaio cada pausa, cada suspiro, cada momento mágico, cada desejo.
Transformo cada imagem, cada palavra, em figuras metamorfoseadas, codificando sentimentos, momentos, memórias íntimas, segredos.
Já não existe o lugar, apenas cheiro, apenas a cor incarnada na pele na alma...
Nos braços, abraços, ouço cada nota, cada compasso a passo e passo deixo me ir no calor do teu corpo, deixas te ficar dançando, a lua branca derramando a noite.
O tempo já não existe...
Apagamos todos os segundos, todos os minutos.
Agora o tempo já não existe!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Álcool...

Em cada copo de vinho pinto vermelho o teu beijo...