quarta-feira, 7 de março de 2012

O emplastro

Na escuridão sente-se a profundidade do abismo sente-se na boca o peso das palavras e nas entranhas um desconforto que tinge o meu corpo de negro.
Por de trás desta janela já existiram sonhos, desejos, já existiram sorrisos, risos, já existiram promessas, loucuras... dentro desta janela vive o caos ferino que tortura cada segundo cada minuto que passa, cada memória, cada lembrança que resta, cada centímetro de uma alma desencontrada de luz de vida de esperança.
Aqui jaz inquieta, carregada de vontades e fé sobrevivendo num mundo de gente infeliz e descontente, de gente ingurgitada de si mesma, de gente egoísta capaz de tudo para satisfazer a pequenez do seu umbigo infectado de gestos menores de valores transfigurados.
Nesta pseudo sociedade de pseudo humanos de pseudo capazes abafam-se os gritos, a angústia e a miséria, esconde-se a verdade e delega-se ao conformismo a justiça cega... veneram-se monstros num acto de egocentrismo puro e cede-se á comodidade de nada fazer, de nada agir sucumbindo a responsabilidade ao verbo.
Na escuridão sinto a profundidade do abismo sinto na boca o peso das palavras e nas entranhas um desconforto que tinge o meu corpo de negro.
É neste húmus de corpos e vidas que me encontro nos teus braços que me sinto a calma, que me sinto a alma, que me sinto despida do mundo, despida de tudo...nos teus braços onde me deito, onde adormeço o corpo nas noites quentes, nas noites frias...
É no espaço entre as palavras e o pensamento que nos tocamos, entre o meu corpo e o teu que nos perdoamos, é entre os meus olhos e os teus que brota a verdade de um sentimento sem medo, de um sentimento que nos queima, que nos tortura, que nos enclausura, que nos mata, que nos transcende.

Sem comentários:

Enviar um comentário